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publicado em Saúde
Ouvidos sadios possuem uma pele uniforme e rosada, sem acúmulo de cera e secreções, se o ouvido e orelha do seu animal não estão assim, provavelmente ele está com inflamação no ouvido.
As otites na verdade fazem parte de um conjunto de sinais e sintomas que podem ter várias causas e quase sempre a pele está envolvida, 80% dos cães com dermatopatias apresentam otites.
Causas primárias, causas que predispõem e fatores perpetuantes (3 P´s da otite)
A otite externa é a mais comum, que atinge as regiões antes do tímpano. Pode ter causas primárias, como ácaros (causadores de sarnas), carrapatos e as alergias que são as causas mais comuns. Outro fator primário é a presença de um corpo estranho, como fiapos de algodão e outros objetos, que pode evoluir para uma otite média caso lese ou perfure a membrana timpânica. As desordens de queratinização, como a seborreia primária e a adenite sebácea também podem causar otite externa devido ao acúmulo de escamas e cerúmen no conduto auditivo. Na verdade, qualquer doença dermatológica que afete as pinas ou pavilhão auricular pode induzir a inflamação do conduto auditivo como, por exemplo, as doenças auto-imunes. Essas causas primárias devem sempre ser tratadas e/ou controladas para o sucesso do tratamento da otite, se isso não acontecer sempre haverão recidivas.
Há causas que predispõem a inflamação do ouvido como:
- Conformação das pinas: há controvérsias em que as pinas eretas e pendulosas sejam ou não mais predispostas a desenvolverem otites devido a maior temperatura e menor areação do conduto audito, mas com certeza elas dificultam o tratamento. Condutos auditivos tortuosos como o do pequinês e longos como o do pastor alemão tornam ambientes adequados para que os fatores primários e perpetuantes causem a inflamação. O estreitamento da abertura do conduto auditivo, como é o caso do conduto dos Sharpeis, diminui a circulação de ar no ouvido externo, o que impede a drenagem natural de líquidos e dificulta o tratamento;
- Animais que nadam facilitam o crescimento de bactérias e fungos no ouvido devido ao aumento a umidade dessa região;
- O aumento da temperatura e umidade do ambiente favorece a proliferação de microrganismos, e irá haver manifestação clínica de dois a três meses após o animal ser exposto a essa variação climática.
- Tratamentos inadequados: traumatismos durante o tratamento pode lesar o epitélio e predispor a infecções, como o uso de cotonetes e depilação dos pêlos da região.
Há também fatores perpetuantes que nunca iniciam o processo inflamatório isoladamente, mas mesmo se o fator primário estiver controlado, esses fatores podem continuar a inflamação e irritação.
- Inflamação bacteriana e fúngica: são os fatores perpetuantes mais comuns. As infecções bacterianas causam mau cheiro, exsudação excessiva de material purulento, podem causar ulceração, dor intensa e o animal balança muito a cabeça. As infecções fúngicas se dão devido a proliferação excessiva de um habitante normal do conduto auditivo, que é a Malassezia sp, que leva ao acúmulo de cerúmen escuro e odor semelhante ao de frutas fermentadas.
- Otite média: é secundária a otite externa crônica, que vai atingir porções mais profundas do ouvido devido à comunicação anatômica das regiões que o compõe. O ouvido médio possui componentes importantes para a audição e ramos nervosos que quando atingidos podem levar ao desenvolvimento de quadros neurológicos graves. Pode ser causada por traumatismos, tumores e infecções bacterianas e fúngicas.
- Alterações crônicas: otites crônicas geram o desenvolvimento de cicatrização da pele do conduto auditivo, diminuindo seu diâmetro e calcificação da cartilagem.
Diagnóstico
O diagnóstico preciso muitas vezes é difícil e deve-se ser feito um histórico e exame clínico completo para buscar os fatores primários que levam ao seu desenvolvimento.
Sempre deve ser feito exame otoscópico completo dos condutos para examinar as porções acometidas e a integridade da membrana timpânica e muitas vezes para que ele seja bem feito requer a sedação do animal.
Também devem ser feitas citologias, onde uma amostra do exsudato será colhida para exame microscópico, para identificar fatores perpetuantes (bactérias e fungos), presença de algumas formas de ácaros e observar os tipos celulares e outras estruturas que podem auxiliar no diagnóstico.
Quando na citologia for observados bactérias mais resistentes ou o tratamento não for eficiente deverá ser realizado um exame de cultura e antibiograma para saber qual antibiótico é mais eficiente para combater estes microorganismos.
Quando há suspeita de envolvimento do ouvido médio deverão ser feitas radiografias onde poderão ser observadas neoplasias e lesões compressivas.
Tratamento
Não existe um protocolo único para tratar otites, o veterinário deverá determinar o tratamento mais adequado para cada animal e ele deverá monitorar cuidadosamente a terapia que podem ser bastante longas.
As causas primárias devem ser sempre identificadas e controladas. Sempre se deve fazer um tratamento tópico direto no ouvido e às vezes o tratamento sistêmico também deverá ser realizado como o uso de analgésicos para aliviar a dor. O veterinário deverá mostrar como realizar a limpeza e aplicação das medicações da melhor forma. Em alguns casos deverão ser realizadas lavagens auriculares para auxiliar o tratamento, o que permitirá que os produtos tópicos consigam agir de melhor forma.
As cirurgias de ablação do conduto são indicadas quando todas as outras formas de tratamento não forem efetivas, quando o animal não deixar tratar e quando há massas que obstruem o ouvido.
Profilaxia
Após tratamento medidas profiláticas podem ser tomadas para evitar novas infecções para sempre. Uma delas é visitar o veterinário regularmente para exames de rotina e controle da causa das otites.
Soluções otológicas higiênicas só devem ser usadas se receitadas pelo veterinário. Para fazer limpezas periódicas deve-se usar somente gazes embebidas em água filtrada, retirando o excesso de água do algodão e devem-se limpar só as regiões externas (onde consiga ver).
Sempre colocar um algodão nos ouvidos antes do banho e retirá-los após. Só que se algodão for hidrófilo deve estar embebido em óleo mineral, por que se não absorverá água do mesmo jeito. Os algodões hidrófobos glicerinados são os ideais, os não glicerinados não devem ser usados, pois soltam fiapos e fibras que podem ficar nos ouvidos. Em caso de acidentes em que corpos estranhos entrem no ouvido somente um veterinário deverá retirá-lo.
Médica Veterinária Pós-Graduada em Dermatologia Veterinária
Atualmente atende exclusivamente Dermatologia de pequenos animais em hospitais e clínicas veterinárias.